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O Teia Acolhida: um dispositivo de acolhimento e formação clínica

Atualizado: 12 de nov.

O Teia Acolhida, surge no contexto da Pandemia de COVID-19 e seu agravamento no país por conta do governo de ultra-direita que nos assolava à época. Pensamos em adentrar esse contexto, mas como é difícil encontrar palavras para descrever nossa vivência, ou melhor, nossa sobrevivência. Ainda assim, foi nesse contexto que juntamos um grupo de supervisão - que era organizado por uma de nós - e alguns participantes da Formação Livre em Esquizoanálise para oferecer escuta e acolhimento à população em geral de forma gratuita, frente aos mais diversos adoecimentos provocados pelo distanciamento social e precarização do acesso a trabalho, renda, educação e saúde.

O grupo começou com cerca de 20 psicólogos, que recebiam as demandas de atendimento que nos chegavam por um contato de whatsapp. Havia 2 encontros clínico-institucionais por mês para acompanhar esse processo. Não apenas o processo de acolhimento de cada pessoa que chegava, individualmente, mas também o nosso processo coletivo enquanto um projeto social-político. Assim, além do Acolhida operar como acolhimento e enfrentamento do isolamento social da população, também foi para nós possibilidade de rede afetiva nesse mesmo enfrentamento e com isso, foi se tornando cada vez mais um local de coletivização do trabalho clínico.

Muitos acolhimentos acabavam por se transformar em demandas de acompanhamento terapêutico e assim fomos construindo a transformação do acolhimento gratuito para uma combinação de pagamento que partisse daquilo que fosse possível para a pessoa pagar, o que fomos convencionando chamar de “clínica social”. Mantivemos os acolhimentos gratuitos. Para as/os que desejam seguir em psicoterapia, a negociação sobre valores acontece com cada terapeuta.

Alguns anos se passaram e o Teia Acolhida - assim como o país - se movimentou e hoje funcionamos de maneira cogestiva a partir de três dispositivos: um de acolhimento e acompanhamento clínico; um grupo de estudos (Devir); e três supervisões clínico-institucionais. Além disso, nos reunimos em assembleias e reuniões clínicas periódicas para discutir nossos caminhos.

Através do Devir e dos grupos de supervisão, recebemos profissionais que desejam se juntar ao coletivo e muitos estão iniciando a prática clínica. Juntos, temos sempre nos surpreendido como o coletivo possibilita, acompanha e fortalece nossa prática profissional como um todo. O acolhimento e atendimento clínico aos que nos procuram é sempre opcional, mas percebemos que a possibilidade de um certo revezamento nesse acolhimento, e o continuum no grupo de estudo e na supervisão tem caráter formativo. E temos cada vez mais nos encontrado e nos afirmado nesse lugar (Rossi, 2021).

A oportunidade dessa apresentação nos convoca algumas questões que têm nos atravessado nesse percurso. Quanto à clínica social e os usos desse termo, muitas nuances nos afetam: quando é emancipatório e quando é produtor de precarizações para o terapeuta? O quanto acabamos ocupando o lugar do Estado? O quão imprescindível é falar do dinheiro e no lugar que ele ocupa no nosso trabalho e quais papéis tem exercido tanto no acesso quanto no embarreiramento entre a clínica e a população? Numa profissão como a psicologia, historicamente comprometida com as elites, como forjar uma clínica acessível, que não esteja engajada na manutenção desse compromisso com as elites brancas brasileiras sem que, por outro lado, sejamos capturadas pelo salvacionismo? (Souza, 1989)

Quanto ao caráter coletivo-formativo: o grupo se faz vital para a construção insistente de novas perspectivas e questões, que incluam intercessores relevantes para a clínica. Trazer a Teia para o I Encontro de Esquizoanálise é também poder afirmar que isso que a gente inventa a partir da experiência de/em grupo tem aporte teórico e epistemológico e que a partir do trauma (pandêmico e político) o coletivo foi e é a saída e o meio. Estarmos juntos podendo acolher as vulnerabilidades, inclusive as nossas. E, nisso, um importante intercessor é a política, e mais especificamente o entendimento de que cada um fala de um lugar racial, de classe e de gênero.

Por fim, desejamos nessa apresentação refletir e coletivizar sobre como se deu nosso processo de grupalização, a partir do fazer cartográfico das nossas reuniões e encontros clínicos (Passos et al, 2009). E, considerando nossas posições diferentes dentro do grupo, fomos nos tornando um coletivo cogerido e formativo para todos nós. Uma teia que nos conecta e acolhe.






Autoria: Cris Lima Júlia Paim Juliana Gonçalves Ferreira Gomes Natasha Iane Magalhães

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS PRELIMINARES

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana (org.). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015. ROSSI, André. Formação em Esquizoanálise: pistas para uma formação transinstitucional. Curitiba: Appris, 2021 SOUZA, Neusa Santos. A questão do dinheiro na psicanálise. In: Souza, N. S. Agenda de Psicanálise. pp. 242-45. Rio de Janeiro: Xanon.1989.

 
 
 

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Coletivo Teia Acolhida

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